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domingo, 15 de julho de 2012

SOB LUZ DE VELAS


Se as duas pessoas se amam uma à outra, não pode haver final feliz

Ernest Hemingway

PHOTOGRAPHIA NA PAREDE

Andy Warhol e Muhammad Ali

CLASSE C - RETRATO FIEL

Do Leandro Machado (na Folha)

Eu me considerava um rapaz razoavelmente feliz até descobrir que não sou mais pobre e que agora faço parte da classe C.
Com a informação, percebi aos poucos que eu e minha nova classe somos as celebridades do momento. Todo mundo fala de nós e, claro, quer nos atingir de alguma forma.
Há empresas, publicações, planos de marketing e institutos de pesquisa exclusivamente dedicados a investigar as minhas preferências: se gosto de azul ou vermelho, batata ou tomate e se meus filmes favoritos são do Van Damme ou do Steven Seagal.
(Aliás, filmes dublados, por favor! Afinal, eu, como todos os membros da classe C, aparentemente tenho sérias dificuldades para ler com rapidez essas malditas legendas.)
A televisão também estudou minha nova classe e, por isso, mudou seus planos: além do aumento dos programas que relatam crimes bizarros (supostamente gosto disso), as telenovelas agora têm empregadas domésticas como protagonistas, cabeleireiras como musas e até mesmo personagens ricos que moram em bairros mais ou menos como o meu.
A diferença é que nesses bairros, os da novela, não há ônibus que demoram duas horas para passar nem buracos na rua.
Um telejornal famoso até trocou seu antigo apresentador, um homem fino e especialista em vinhos, por um âncora, digamos, mais povão, do tipo que fala alto e gosta de samba. Um sujeito mais parecido comigo, talvez. Deve estar lá para chamar a minha atenção com mais facilidade.
As empresas viram a luz em cima da minha cabeça e decidiram que minha classe é seu novo alvo de consumo. Antes, quando eu era pobre, de certo modo não existia para elas. Quer dizer, talvez existisse, mas não tinha nome nem capital razoável.
De modo que agora elas querem me vender carros, geladeiras de inox, engenhocas eletrônicas, planos de saúde e TV por assinatura. Tudo em parcelas a perder de vista e com redução do IPI.
E as universidades privadas, então, pipocam por São Paulo. Os cursos custam R$ 200 reais ao mês, e isso se eu não quiser pagar menos, estudando à distância.
Assim como toda pasta de dente é a mais recomendada entre os dentistas, essas universidades estão sempre entre as mais indicadas pelo Ministério da Educação, como elas mesmas alardeiam. Se é verdade ou não, quem pode saber?
E se eu não acreditar na educação privada, posso tentar uma universidade pública, evidentemente. Foi o que fiz: passei numa federal, fiz a matrícula e agora estou em greve porque o campus cai aos pedaços. Não tenho nem sala de aula.
Não que eu não esteja feliz com meu novo status de consumidor, não deve ser isso. (Agora mesmo escrevo em um notebook, minha TV tem cem canais de esporte e minha mãe prepara a comida num fogão novo; se isso não for felicidade, do que se trata, então?)
O problema é que me esforço, juro, mas o ceticismo ainda é minha perdição: levo 2h30 para chegar ao trabalho porque o trem quebra todos os dias, meu plano de saúde não cobre minha doença no intestino e morro de medo das enchentes do bairro.
Ou seja, ao mesmo tempo em que todos querem me atingir por meu razoável poder de consumo, passo por perrengues do século passado. Eu e mais de 30 milhões de pessoas --não somos pobres, mas classe C.
Deixa eu terminar por aqui o texto, porque daqui a pouco vão me chamar de chato ou, pior, de comunista. Logo eu, que só li Marx na versão resumida em quadrinhos. Fazer o quê, se eu gosto é de autoajuda?

Leandro Machado
( 23 anos, é estudante de letras na Universidade Federal de São Paulo, mora em Ferraz de Vasconcelos (SP) e escreve no blog Mural, da Folha)

ANESTESIA GERAL


Como naquelas campanhas de vacinação, de antigamente, parece que foi aplicada nos brasileiros uma anestesia geral.
Amorteceram a capacidade de indignação de todos nós.
Campeia livremente o descalabro dos desvios e da corrupção generalizada.
Brasil: O país das "trocas". Terra de roleiros.
Havelange, segundo documentos suiços, levou propina de empresas de negócios na área esportiva. Punição:
Coroado Presidente perpétuo da Fifa e membro honorário do Comitê Olímpico.
Na mesma situação encontra-se o seu ex-genro, Ricardo Teixeira. Atolado até os cocãos, se auto-exila em Boca Ratton (sugestivo nome), na Flórida e pasmem, com direito a um salário (consultor) da CBF, de US$ 100 mil/mensais.
O lugar de Teixeira, na CBF, foi ocupado por Marin (aquele mesmo da medalha), que recebendo salários e gratificações astronômicas, toca o barco, não escondendo de seu curriculo, o servil e brilhante serviço prestado a ditadura.
Dilma, coerentemente, se nega a recebê-lo.
Demóstenes, cassado por denúncias de tudo quanto é tipo, reassume seu cargo no Ministério Público Federal. Irá receber R$ 25 mil/mensais para julgar os outros.
E nós ? Não estamos nem aí. Afinal o dinheiro não é nosso !
Não é nosso como Cara-Pálida ?
Não poderia ser empregado na segurança, nas estradas, na saúde, na educação ?
E o trabalho que essa cambada está dando para os pais e avós, convencerem filhos e netos que o caminho não é esse. Que o crime não compensa ?
Antídoto para anestesia já, ou será melhor fechar para balanço.

ER  

MOMENTOS MÁGICOS



Vá, pensamento, sobre as asas douradas
Vá, e pousa sobre as encostas e as colinas
Onde os ares são tépidos e macios
Com a doce fragrância do solo natal!
Saúda as margens do jordão
E as torres abatidas do sião.
Oh, minha pátria tão bela e perdida!
Oh lembrança tão cara e fatal!
Harpa dourada de desígnios fatídicos,
Porque você chora a ausência da terra querida?
Reacende a memória no nosso peito,
Fale-nos do tempo que passou!
Lembra-nos o destino de jerusalém.
Traga-nos um ar de lamentação triste,
Ou o que o senhor te inspire harmonias
Que nos infundam a força para suportar o sofrimento.

"NÃO SEI" LIDERANDO

Ouvido ontem nas proximidades do Café do Wadinho,

- Ô Cumpadre, você também é de opinião que todos os candidatos já estão com pesquisas nas mãos ?

- Sem dúvida nenhuma. Eu mesmo fui pesquisado na semana passada.

- E por que será que nadica de nada é divulgado ?

- Deve ser porque o "não sei" está disparado na frente.

- Éh...Faz sentido.

ER

CANTINHO DA SALA

Carl Larsson

O REI DAS EMENDAS


Só quero saber quanto veio para a terrinha. Qualquer dos presentes na foto, poderia nos informar.
Deu no 247
O deputado do PT de Minas Gerais, Odair Cunha, recebeu, da ministra Ideli Salvatti, uma promessa de recompensa quando foi escolhido para ser relator da CPI do Cachoeira. Segundo nota publicada na revista Veja desta semana, o mineiro teria hesitado diante do convite para assumir a atividade, devido à constrangedora e desgastante missão de voltar a investigação para políticos da oposição, preservando assim a base governista, mesmo que enrolada nos esquemas do bicheiro.
Até agora, segundo relata a Veja, os benefícios concedidos pelo governo não têm deixado o petista de barriga vazia. Cunha já é o deputado mais contemplado com verbas do orçamento do governo federal neste ano. Apenas três meses depois de ter assumido a relatoria da comissão, o petista conseguiu liberar R$ 7,2 milhões para suas bases eleitorais no sul de Minas Gerais.
247

POIS É...