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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

CINE PRESIDENTE

A felicidade não é tão cara
Nem foi um dia,
Custava apenas o preço justo
De uma meia entrada de cinema
De uma sessão de domingo
A das quatro da tarde
Do Cine Presidente,
Anos sessenta e setenta
Regada a música antes dos filmes
Coisas do tipo “Os pobres de Paris”
Adoçadas pelas balas do seu Moyses
Repleta de flertes e conversas diversas.
O mundo se encerrava ali

Mas não começava ali,
Havia a ansiedade da espera.
Foi um pedaço da vida
De romantismo ingênuo
Doris Day, Jerry Lewis, Quo Vadis…
Roma era mais perto que o Morro Chic
Estava ali na tela.
O mundo lá fora era generoso
Os problemas não existiam
Os que existiam eram problemas dos outros
Depois do cinema o footing na praça
Radio City, picolé de côco queimado
A menina de vestido branco
De olhos negros tímidos e marcantes.
A felicidade estava presa ali
Esperando por nós, no próximo domingo
Triste alegria, o mundo mudou
O Presidente fechou
Os problemas dos outros agora,
Há muito são nossos.

Paulo Rennó


Dica do Reinaldo Pereira Pinto, que é da família ex-proprietária do cinema que tanta satisfação nos proporcionou na terrinha.  

3 comentários:

Wartão disse...

Só quem viveu essa fase, pode avaliar a profundidade do texto.
Parabéns!

Unknown disse...

Zezinho, Paulo Rennó é meu irmão. Um engenheiro que descobriu a luz da fotografia e a beleza da poesia.

Edson Riera disse...

Célia,

Uma família dotada de muita sensibilidade e arte. E lógico, capacidade para traduzir em palavras e imagens.
Abraço
Zezinho