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segunda-feira, 14 de maio de 2012

CHRISTIANE RIERA DEIXA SUA MARCA NO CINEMA BRASILEIRO

Cao Hamburger - Especial para a Folha (14/5)
Christiane Riera me ensinou que, em teatro, muitas vezes, o diretor e os atores contam com ajuda da dramaturgista, pessoa com a função de "desvendar as nuances e as entrelinhas do texto, situá-lo no tempo e na história, decodificar as intenções e motivações do autor".
Foi mais ou menos assim que ela definiu sua função quando me disse que estava pensando em aplicar essa ideia em cinema. Com a diferença de que atuaria a partir da escrita do roteiro.
Recém-chegada de um doutorado, em Yale, Estados Unidos, um dos primeiros filmes que ela se envolveu foi "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias". Sorte minha.
Sua atuação contundente partiu do roteiro, mas se estendeu a outros elementos do filme. E o pensamento ficou inteiro, completo, integral.
A notícia se espalhou rápido e sua colaboração passou a ser disputada por diversos filmes e séries de televisão.
Sempre com respeito aos roteiristas, diretores e produtores, mas com opiniões firmes, participou de filmes importantes como "Jardineiro Fiel", "A Mulher Invisível", "À Deriva", "A Cadeira do Pai", "VIPs", "Chega de Saudade", "O Homem do Futuro" e "O Céu de Suely".
Na televisão, "Filhos do Carnaval", "Antônia", "Destino SP" e "Alice".
Em cada um deles, foi capaz de entender a delicada relação entre o roteirista e/ou o diretor e a história que está sendo contada. Com generosidade ímpar, se dispunha a "pensar com a nossa cabeça" e nos fazer entender nossas motivações e interesses.
No filme "Xingu", ela foi fundamental no difícil processo de entender o que fazer com uma história tão cheia de histórias, pontos de vistas, questões políticas, sociais e filosóficas.
E, de novo, até o último corte do filme, esteve presente e atuante. Brigamos durante a montagem. Firme, me fez ver que algumas ideias, que eu achava brilhantes, estavam entornando o caldo.
O cinema brasileiro teve sorte de Christiane Riera ter inventado e se inventado nessa função.
A moça do teatro -crítica da "Village Voice" e da Folha-, de uma consistente carreira acadêmica, veio nos ensinar a pensar da essência para o todo e vice-versa.
Inquieta e pioneira, com rara generosidade, sensibilidade, talento, cultura e competência, deixou sua marca no cinema brasileiro. E se não tivesse nos deixado tão jovem, o que teria inventado em teatro, literatura, cinema, televisão, como professora, ou qualquer outra área que escolhesse?
Obrigado, Chris.
Cao Hamburger é diretor dos filmes "Xingu" e "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias".

4 comentários:

ANTONIO MARCELINO RODRIGUES disse...

É.....Realmente ela não perdeu tempo....Aproveitou muito bem sua estada entre nós!!

Anônimo disse...

No cinema assisti a todos os filmes nos quais ela trabalhou. Na TV assisti "Alice", série da HBO de 3 ou 4 anos atrás.
Não conhecia ou tinha ouvido falar da Chris Riera, senão agora, pelo blog.
Todos os trabalhos são incríveis, cada um a seu modo.
Acho que essa sétima arte é feita de risos e lágrimas. Aqueles que conseguem alçar essas emoções, muitas vezes recônditas, são almas predestinadas.
Não conheci Chris Riera, mas ela já conhecia todos os caminhos de meu coração. Um orgulho para o Brasil; um regozijo para a família.
Uma perda para todos. Que Deus a acolha; ela certamente já brilha ao lado Dele, mais ainda do que quando nos fazia rir e chorar.

Laissez Faire

Edson Riera disse...

Laissez Faire,

Com sua permissão, torno também minhas as suas palavras.

Grato,

Zelador

Gilbertinho disse...

Mesmo tendo vivido próximo da Chris, minha sobrinha 02 vezes, não imaginava o quanto ela era importante e necessária para o cinema nacional. Em seu velório pudemos ver reunidos, todo o pessoal relacionado com o cinema nacional. Vi homens, velhos e jovens, mulheres também de varias gerações, chorarando de soluços com a nossa perda. Que DEUS a tenha próximo DELE e que dê conforto a sua mãe, irmãs e sobrinhos.