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sexta-feira, 9 de março de 2012

PALAVRAS


Post de Laissez Faire - Texto de Ivan Martins -  Época

A gente cresce acreditando no poder das palavras. Desde criança, nos dizem que, conversando, seremos capazes de acertar qualquer coisa, de resolver qualquer situação. Infelizmente, não é verdade. Quando se trata de relacionamentos, as palavras são inúteis. Os sentimentos apaixonados que nos ligam a alguém não são criados por palavras. Os desentendimentos que aos poucos ou de súbito nos separam da pessoa não são provocados por palavras. Os sentimentos de perda, dor e morte causados pelas rupturas tampouco são remediados por palavras. As palavras descrevem, celebram, exaltam e lamentam nossas paixões, mas não são responsáveis por elas. Quando se trata de amor, as palavras são inúteis. Não obstante, nós falamos. Cultivamos a ilusão de que o outro pode ser envolvido, seduzido, convencido pela nossa retórica. Acreditamos, fundamentalmente, que o nosso desejo pode ser transmitido pela palavra. Por isso, telefonamos, mandamos mensagens, escrevemos longos e-mails, rabiscamos poemas, fazemos letras de música, marcamos conversas dolorosas e intermináveis que – a rigor – não levam a lugar nenhum. Quando existe um sentimento comum, as palavras são apenas acessórias. Quando não há sentimento, elas agem como um bisturi: cortam, expõem e dilaceram, mas não criam. Tenho a impressão de que aquilo que liga dois seres humanos existe além das palavras. Uma magia de natureza física ou psíquica dita que Fulana é atraída por Sicrano ou vice-versa. Isso acontece de forma instantânea, ou pode ser construído lentamente, mas não sobre o alicerce das palavras. As palavras são apenas a aparência do que nos liga. Quando as pessoas conversam, trocam entre si códigos que vão além do que elas dizem. Há os olhos, as mãos, o corpo e a voz, que sinalizam uma espécie de todo invisível. Há um conjunto de sinais nos quais um se expressa e o outro se reconhece – e deseja, ou não deseja. O sentido das palavras nessa troca é secundário. A mensagem profunda sobre quem se é já foi passada antes. Se isso não nos parece tão claro é porque vivemos num universo revestido de palavras. Temos a sensação de que elas iniciam e finalizam todos os atos, mas não é assim. As palavras são apenas sintomas. Quando as pessoas se conhecem e se apaixonam, conversam da mesma forma como se beijam, com fúria e com encantamento. No final, quando tudo acabou, as palavras doem e escasseiam. Elas são repelidas pelo outro da mesma forma que o toque, igual que o olhar. Temos a impressão de estar encerrando o amor com as palavras, mas elas são apenas as flores do enterro. Quando chegamos a elas, o desejo está morto. Infelizmente, os ciclos de paixão e rejeição não são simultâneos. Eu ainda estou cheio de palavras doces, mas você não quer mais ouvi-las. Ou eu me dirijo a você com palavras de desejo e prazer, mas elas deixaram de fazer sentido. Se você não sente mais o que eu sinto, não vai entender o que eu digo. Nem será tocada pela magia das minhas palavras, que se tornam inúteis. Quantas das nossas conversas não são trocas de palavras inúteis? Tentamos transpor com elas o abismo da indiferença do outro. Explicamos, sugerimos, argumentamos - inutilmente. Então, economize palavras. Fique quieto e preste atenção. Escute o que ela não diz. Entenda o que ele nem falou. Os gestos contam coisas, os olhares antecipam. Atitudes valem mais do que declarações de amor – e não podem ser substituídas ou consertadas por palavras.

Post de Laissez Faire - Texto de Ivan Martins - Época

Blog: Grato Laissez Faire, pelo envio de um dos textos mais verdadeiros e bonitos  aqui publicados..

ER 

8 comentários:

Anônimo disse...

De nada professor! Posso chamar assim?
É e sempre será um prazer!

Grande abraço,

Laissez Faire

Anônimo disse...

Isto caiu como uma luva para minha alma e mente.
É sempre bom saber que existe luz no fim do Túnel.
Resumindo: Pratiquemos mais esta condição postada, encontre amigos, ex amigos, busque novos amigos ou simplesmente converse. Se andas escondido na toca, saia. Se estas alegre, triste, deprimido(a) converse com pessoas, sempre é hora de recomeçar o que achamos comumente que é bom para nós e a forma em que vivemos hoje.
Não escolha pessoas para conversar, não escolha assuntos ou temas.
Tente sorrir a achar graça de verdade da obviedade que seu par possa lhe dizer ou tente ser igual a um bom critico de cinema ou tente não entender nada.
Mas pratique isto de verdade com pessoas, das mais simples as mais intelectuais.
Mas façamos um favor, deixemos de medir ou classificar as pessoas por um instante.
Deixe para o momento certo.
Renasça !!
Aproveitemos a oportunidade !
Parabéns a pessoa que enviou o Post por querer salvar pessoas que estão só, mas não acreditam, (não há explicação, só sabemos o que passamos no exílio pessoal e de que somos donos as vezes do mundo)

Ass: Pagador de impostos

Anônimo disse...

Caro Edson,

O Ivan Martins soube expressar com palavras o significado poderoso e ao mesmo tempo falso e inóquo que tem as palavras. Nunca havia pensado dessa forma.
Causou-me inveja e um sentimento de incompetência. Concordo com o zelador do blog que este texto é um dois mais verdadeiros e profundos já postados.

Quando vc. iniciou o blog colocou como missão “...ocuparei este espaço para falar e discutir um pouco, com simplicidade, sobre a vida, com suas alegrias e tristezas.” Pode ter certeza que já conseguiu.

Abraços.

Humberto.

Anônimo disse...

Discordo e concordo.
Discordo porque as palavras sintonizam e armonizam os sentimentos mais sublimes.
Concordo porque as vezes uma única palavra rompe um sentimento que passa a decompor.
Sobre o texto, na minha opinião, diz mais sobre um sentimento, que não sendo possível descreve-lo, nos faz saber o que diz o autor, mesmo não sabendo explicá-lo.

Zébebeu

Anônimo disse...

Estou vivendo um momento em que as palavras, de fato, se esvaziam. Elas nunca se colocarão no mesmo patamar do sentimento avassalador de estar encantado por outra pessoa, tampouco terão substância para alentar a sensação da perda precoce.
São frágeis as palavras quando colocadas ao lado de históricas das quais não há como desviar, aqueles encontros incontornáveis.
Mas sempre serão um aconchego. Na maior parte das vezes sobram as palavras como afago; refúgio desajeitado que acaricia o coração aflito.
Daí os poetas. Ou, como cantavam os Bee Gees, "its only words, and words are all I have to steal your heart away".

Laissez Faire

Anônimo disse...

Laissez Faire não a conheço, nunca ouvi uma única palavra sua, e nem imagino como é, mas já estou encantado por você.
Ah.....fico pensando uma conversa longa.....sem fim, eu ouvindo até o seu silencio.

Zébebeu

Anônimo disse...

Ainda sobre Palavras...
Havia certa vez uma jovem muito bonita que tinha dois pretendentes: um deles era reservado e mais calado e o outro era muito extrovertido e brincalhão. Este último sempre falava das belezas da moça e de quanto ele a queria para todos que encontrava na cidade, de modo que ela se tornara muito conhecida. Por fim, um dia, a jovem se casou. Com quem? Com o jovem reservado que não ficava falando dela para todo mundo.
Na saída da igreja perguntaram ao vaidoso:
- O que aconteceu? Não dizias que ela era tão bonita e formidável...
Ao que o jovem falou:
- O problema é que enquanto eu falava
Para ela , o outro falava COM ela.
Falava com os olhos.
Os olhos são para ver, para olhar e observar, para falar e convencer, para agradecer e amar, para deixar entrever,
o mais belo de admirar: O que há dentro de cada ser.
A...

Anônimo disse...

Zébebeu,

talvez os melhores (e os piores) diálogos sejam, de fato, travados no silêncio.
Apenas um ajuste: quando você diz "não a conheço", seria correto dizer "não o conheço".
Esse pseudônimo pode mesmo induzir ao erro...rs

Grande abraço e obrigado pelas palavras gentis,

Laissez Faire (laissez aller, laissez passer!)