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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

CARTAS QUE NÃO RECEBI

São Bernardo, fevereiro de 2012

Prezado Camarada,

Gostaria, antes de mais nada, registrar que oficialmente continuo filiado ao partido. Entenda que não é fácil mudar de um ano para o outro.
Tenho promovido infindáveis reuniões coletivas comigo mesmo, em frente a espelhos.
Cheguei a conclusão que o poder suga os ideais. Corrompe. Engorda. Acomoda. Distancia.
Esgotaram todos os meus argumentos em defesa do indefensável.
Posso ser um apaixonado, mas burro não sou.
Como numa guerra, a cúpula participa como pilotos de bombardeios. Lutam, mas não fitam os inimigos.
Nós, meros "companheiros", lutamos na infantaria com baioneta calada.
Corpo a corpo.
Sempre encaramos com firmeza os olhares desafiantes dos nossos adversários. Sentiamos prazer em empunhar e desfraldar o pavilhão vermelho.
Ficou difícil.
Passamos a nos defrontar com meio-sorrisos de ironia e até mesmo de pena.
Para nós militantes de primeira hora, ficou clara a expressão "canoa furada".
O que fazer ? Como agir ?
Abandonar o barco ? Tentar esvaziá-lo com um dedal ? Remar buscando as margens tal como um  "Costa Concordia"
Devagarinho estamos nos transformando num PTB dos anos 50.
Penso em me posicionar, do mesmo que muitos companheiros da terrinha, com um franco atirador, metido a democrata socialista de centro-esquerda, desatrelado de siglas que mais nada dizem, ou melhor, que dizem quase tudo.

Abraço

Engenheiro

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso ai Camarada como bem diz seu misterioso parente Tião Riera:
É A VIDA.