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domingo, 22 de janeiro de 2012

FILHOS ÚNICOS

Por Vivina de Assis Viana
Mais de dez da noite, o ônibus deixa a rodoviária simples, no interior mineiro, e toma o rumo da maior cidade do país. Poucos metros adiante, procura o acostamento:
— O senhor tem passagem? – O motorista abre a porta para o vulto que, na estrada escura, agita os braços, pedindo que ele pare.
— Não, não tenho, mas…
— Então, nada feito, meu amigo. O ônibus está lotado.
— Mas, eu só vou até aqui bem pertinho…
— Nada feito. Com o ônibus lotado, nada feito.
— Mas, é um caso de urgência…
— Não insista, meu amigo!
— Mas, esse é o último ônibus…
O motorista, impaciente, ameaça fechar a porta.
— E daí, se é o último ônibus? Não posso fazer nada!
— Mas eu posso!
Tênis, jeans, camiseta da seleção brasileira de futebol, um jovem surge do fundo do ônibus e, passagem na mão, dispara pelo corredor.
Em seguida, mão no ombro do passageiro sem passagem que, aproveitando a distração do motorista, já estava dentro do ônibus, ele diz:
— Olha aí, cara, passagem pra São Paulo! É sua! E não precisa me pagar.
— Mas, eu só vou aqui pertinho…
— Que pertinho, que nada! Aproveita, cara! São Paulo!
— Devo estar ficando maluco – diz o motorista.
E, dirigindo-se ao desertor:
— Se você vai mesmo desembarcar, vamos logo! Tem bagagem no bagageiro?
— Bagagem? Tenho não! Só essa roupa aqui, que estou vestindo. E, sabe de uma coisa? Nem emprego eu tenho. E não tenho nada pra fazer em São Paulo, cara, nada.
— Pra que você tá indo pra lá, então?
— Pra ver se arrumo emprego, mas isso é só porque todo mundo fica falando, falando. Quero nada disso não. Quero é ficar aqui, cara. Não vou deixar minha mãe sozinha, de jeito nenhum. Sou filho único! Filho único, tá sabendo? Pensa bem, cara, tem sentido ela aqui, sem eu, e eu lá, sem ela?
O filho único abraça – efusivamente – seu salvador, deseja-lhe boa viagem – que pertinho, que nada! São Paulo tá te esperando! –, despede-se da platéia, aperta a mão do motorista e, dançando, ganha a estrada escura.
O motorista faz um sinal da cruz, fecha a porta que o separa dos passageiros, liga o rádio – e o ônibus – e, mais uma vez, ganha a estrada.
Poucos quilômetros adiante, um sinal estridente diz que ele deve parar:
— Ai, meu Deus, desse jeito, essa viagem não acaba nunca! E tenho mais de quinhentos quilômetros pela frente!
O ex-passageiro sem passagem, tranqüilo:
— Eu não falei que era pertinho?
— Pensei que o senhor ia pra São Paulo. Pensando bem, aquela passagem caiu do céu…
— São Paulo? De jeito nenhum!
— Qual o problema, meu amigo? Medo de arrumar emprego?
— Não, não! Emprego eu tenho, graças a Deus!
— Então?
— Também sou filho único!

Por Vivina de Assis Viana

Um comentário:

Anônimo disse...

O filho único
Ainda que ser filho único não constitua uma "enfermidade", todo mundo reconhece que este tipo de criança tem propensão a problemas particulares: é frágil, caprichoso, tímido, tirânico com os seus, tem dificuldades de adaptação com seus companheiros e para integrar-se num grupo e reage freqüentemente com desconcerto ou rebeldia. No conceito de filho único não entra apenas aquele que realmente o é, mas também o menino que só tem irmãs, ou vice-versa, e o 'temporão' da família, a criança que tem irmãos com uma diferença de idade muito grande.

Normalmente as mães de filhos únicos são extremamente possessivas e absorventes.

Esta criança, de caráter bastante possessivo, costuma ter um nível intelectual superior ao normal para sua idade. Tudo isto o diferencia do grupo, provocando o repúdio de outros em torno dele, não se encaixa e não sabe superar este problema inesperado: que os outros não o aceitem.

Tem grandes dificuldades em suas relações afetivas com os demais, tende ao isolamento e a criar uniões excessivas com seu pai ou com sua mãe, fora das quais muitas vezes em que se sente inseguro.

Os verdadeiros conflitos surgem na adolescência. Alguns filhos únicos continuam relacionando-se com seus pais num plano infantil, dependente e submisso, outros, ao contrário, se rebelam contra a tutela familiar excessiva e reivindicam a liberdade e a independência que lhes corresponde pela idade, chegando as vezes a produzir rupturas violentas e separações totais com os pais.

Eles parecem ser mais instáveis, mais emotivos, mais coléricos e mais agressivos que os outros, com mais dificuldades para adaptar-se à disciplina escolar e à convivência com o grupo.

Em qualquer caso, o pai ou a mãe de um filho único não precisa ficar desanimado com estas informações. Tudo vai depender da educação que será dada ao filho, que não tem que ser mais rígida nem mais condescendente que a que teria se tivesse outros irmãos.

GUIA PRÁTICO DE PSICOLOGIA,

Fonte: EDUFAM - Educacion y Familia - www.edufam.com
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