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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

SOB A LUZ DE VELAS

As paixões são os ventos que enfunam as velas dos barcos, elas fazem-nos naufragar, por vezes, mas sem elas, eles não poderiam singrar.



Voltaire

RONDANDO SAMPA

Para muita gente a música "Sampa" do Caetano é o "hino nacional de São Paulo". Realmente: "...alguma coisa acontece no meu coração..." é extraordinariamente marcante. Lamento decepcionar a legião de seguidores do compositor baiano. Para mim, musicalmente falando, a primeira lembrança que vem a mente, é a dramática "Ronda", do Paulo Vanzolini. Doutor em zoologia.
"Ronda" é de 1953 e foi gravada primeiramente pela Inezita Barroso.
É a cara de São Paulo, que completa hoje 457 anos. Ouçam com o Jamelão.

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O VELHO E O BAR


Do Walter Bianchi,

Frase atribuída a Hemingway (Premio Nobel de Literatura-1954): "O mundo para mim é sempre mais belo do que para os outros, pois eu estou sempre 2 doses de wisky à frente deles". Quando morou em Cuba costumava freqüentar o Floridita, um boteco, e a apreciar o daiquiri, uma mistura de rum, açúcar, gelo picado, sumo de limão - e um nada de marasquino, segundo algumas variantes.Mas preferia mesmo bebidas secas. Assim, operou uma adaptação no coquetel. Mandou que o barman tirasse o açúcar e, em seu lugar, acrescentasse outra dose de rum. Nascia o "daiquiri à Hemingway", que até hoje pode ser bebido no Floridita, ponto turístico de Havana(vale a pena visitar). Conta-se que 12 era o número exato de daiquiris duplos suportado pelo escritor num dia bom. Num dia ótimo, ele ainda pedia que os garçons colocassem algumas doses suplementares num balde de gelo para ir bebendo pelo caminho de volta à Finca Vigía, sua residencia na ilha. Ao longo da vida do escritor, o tema suicídio aparece em escritos, cartas e conversas com muita freqüência. Seu pai suicidou-se em 1929 por problemas de saúde e financeiros. Sua mãe, Grace, dona de casa e professora de canto e ópera, o atormentava com a sua personalidade dominadora. Ela enviou-lhe pelo correio a pistola com a qual o seu pai havia se matado. O escritor, atônito, não sabia se ela queria que ele repetisse o ato do pai ou que guardasse a arma como lembrança. Aos 61 anos e enfrentando problemas de hipertensão, diabetes, arteriosclerose, depressão e perda de memória, Hemingway decidiu-se pela primeira alternativa. A vida inteira jogou com a morte, até que, na manhã de 2 de julho de 1961, em Ketchum, Idaho, pegou um fuzil de caça e disparou contra si mesmo.

Walter Bianchi

PHOTOGRAPHIA NA PAREDE

Ernest Hemingway

CASA GRANDE

Para alguns, universidade é coisa de elite e pronto, e só assim realiza bem sua função. Sou um desses.

Blog: Quem escreveu o polêmico texto foi o acadêmico Luiz Felipe Pondé, na Folha de ontem. Assunto da hora para ser discutido em Itajubá.

"Sou um acadêmico. Adoro dar aula, estudar, participar de seminários. O milagre de ver os olhos de um aluno transparecer a experiência do conhecimento é um prazer imenso. Todo dia agradeço a Deus pela coragem de ter trocado a medicina pela filosofia, ainda que, no fundo, continue vendo o mundo com os olhos do médico. A medicina impregna a alma com a percepção da fragilidade da fronteira entre fisiologia e patologia.
Mas nem por isso deixo de ver que minha tribo padece de contradições específicas, e que, em nosso caso, podem ser bem dramáticas, uma vez que somos responsáveis pela produção de grande parte do conhecimento público.
Uma dessas contradições é a relação entre universidade e elite. Para alguns, universidade é elite e pronto, e só assim realiza bem sua função. Sou um desses. Já na Idade Média, fosse Paris, Oxford ou Salamanca, era coisa de elite.
O pensador conservador e historiador das ideias americano Russel Kirk, já nos anos 50 (recomendo fortemente a leitura do seu livro "Academic Freedom", de 1955), advertia-nos acerca da "proletarização" das universidades, na medida em que ela passava a ser uma opção de ascensão social para a classe média e "gente sem posses".
Hoje, isso é fato. A forma como "carreira salarial" e "produção acadêmica" se relacionam e se confundem no cotidiano da gestão universitária na forma de "critério de qualidade" é uma prova cabal do argumento de Kirk. O fato é que quase sempre a discussão sobre "reconhecimento da produtividade" só vale se for materializado em ganho salarial, apesar das tentativas de maquiarmos o fato. No fundo, é quase tudo uma polêmica sobre folha de pagamento.
Mas não é disso que quero falar. A relação entre universidade e elite tem outras nuances que apontam para as contradições do mundo contemporâneo e sua relação com a ideia de "democratização do ensino". A vocação da universidade no cenário da democracia se confunde com a ideia de universalizar a formação superior ao mesmo tempo em que deve formar quadros técnicos de gestão da sociedade, da ciência e da cultura superior.
Daí que seja comum minha tribo tomar a palavra pública em favor da "democratização do ensino" e da "democracia nas instâncias internas da universidade". Aqui surgem duas das contradições às quais me refiro.
A primeira tem a ver, no Brasil, com a abertura de universidades às centenas e em quase toda esquina, quase sempre com qualidade duvidosa. "Universidades a R$ 399,90 por mês."
Contra essa tendência, colegas gritam, com razão, denunciando a má formação em questão. Mas o fato é que democratização significa quase sempre "barateamento do produto". Para muita gente pobre cursar universidades públicas ou particulares de renome e tradição é impossível, seja pelo restrito número de vagas, seja pelo alto custo financeiro.
A verdade é que o caráter elitista travestido de "democrático" da minha tribo revela aqui a falsidade de sua natureza e a alienação típica de quem vive regado a leite de pato na casa grande. Não se pode democratizar garantindo "vinho francês pra todo mundo". Basta vermos o barateamento do voto à medida que a democracia brasileira assimila suas classes C e D. Universidade boa é coisa cara e brasileiro não tem dinheiro.
A segunda é pior ainda. Muitos de nós mentimos sobre a "democracia" e a transparência interna da universidade.
Devido muito ao hábito oligárquico de nosso país, "estrelas" da elite das grandes universidades, publicamente "implicadas" com democracia e transparência, no cotidiano da universidade agem como o mais comum "senhor da casa grande", buscando garantir gerações futuras do quadro docente dentro do seu grupo de discípulos, realizando um verdadeiro "bullying" contra integrantes de grupos institucionalmente mais frágeis.
A universidade é dilacerada por lobbies internos que fazem dela um exemplo típico das oligarquias da "casa grande e senzala". O uso da burocracia interna faria qualquer "peemedebista" chorar de inveja. Quem for inocente que atire a primeira pedra."
 
Luiz Felipe Pondé