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domingo, 11 de setembro de 2011

PORQUE HOJE É DOMINGO


ACIMA DA BURRICE

Lembra quando mandavam aqueles emails com Power Points falando de Deus, e no fundo tinha sempre a foto clichê, do céu, do pôr do sol, da cachoeira? Bom, mas e quando a sua cachoeira seca, o seu céu vira um tempo feio e você encontra um buraco no chão? Não é para isso que existe aquela mensagem com aquelas letrinhas bregas? A vida não pode ser aquela perfeição quase cafona, certo?
Há milhares de anos, houve um dia numa cidade. Lá tinha pessoas como eu e como você. Gente do bem e do mal. Gente empolgada por nada e gente necessitada, gente que esperava. Então anunciaram que Deus entraria lá. Aquele mesmo Deus que havia ressucitado um morto chamado Lázaro. O mesmo Deus que havia feito coisas lindas. Ele chamava Jesus, e seu nome estava se espalhando por lá, como eu e você vemos hoje em dia nos adesivos dos carros, nas reportagens, entre os evangélicos que o Serra e a Dilma querem conquistar.
Enfim, pense nessa cena: ele ia entrar na cidade e os olhos de todo mundo estavam congelados no caminho por onde ele entraria. Pessoas na expectativa, pessoas que não trabalharam aquele dia só para vivenciar o momento em que o tal, o próprio Jesus Cristo, em carne e osso, entraria naquele lugar. E de repente, como mais um dos mais mortais dos humanos, ele entra montado num jumento. Não, não. Num “jumentinho”. A trilha sonora quase parou. Se fosse na sua cidade, você comentaria com a pessoa ao seu lado, certo? Se fosse na sua vida, você se decepcionaria, certo? Se fosse filme, os patrocinadores não comprariam, certo?
Mas a parte linda da história é que o Rei entrou montado num burro e a alegria das pessoas não foi roubada e nem a espera foi frustrada. A imagem divina mais humana que poderia existir estava na frente dos olhos daquela gente e eles gritavam com uma certeza descomunal: “hosana nas alturas!” Você leu direito? “Nas alturas!” Mas como ‘nas alturas’ se ele estava a apenas alguns centímetros do chão, em cima daquele animal que não comunicava absolutamente nada e que era quase uma afronta ao cara que deixou de trabalhar só pra ver o Rei passar?
Quantas vezes você já achou as coisas de Deus um desaforo à sua cidade particular?
Quantas vezes você parou de esperar alguma coisa de Deus, porque certa vez ele não chegou em você do jeito que você queria?
Quantas vezes você olhou para o céu esperando um Deus que explodisse em 500 mil cores diferentes, e ele apareceu silenciosamente montado num burrinho marrom, cor de burro quando foge?
Quantos Power Points você já recebeu e achou que Deus era aquela mensagem chata e brega?
Eu vou dizer: brega e chato são os power points, a religião que quer etiquetar um Deus livre, dizendo como ele deve ou não deve se aproximar de você. Baixas são as definições óbvias sobre Deus. Quem quiser viver nas alturas precisa estar aqui embaixo e ver o que está acontecendo na cidade. Acompanhe:
Jesus já tinha passado por lá quando ressucitou Lázaro. E você deve saber como é: lembra quando Jesus entrou na sua cidade e te chamou pra fora do túmulo do quarto, da nóia, do relacionamento errado, do medo, da vidinha de dor, da carência, da falta de direção, dos erros mais imbecis que você cometia, e então todo mundo se espantou com esse milagre inédito? Pois é. Você foi marcado pela visita. Mas e se agora ele resolvesse chegar por outros caminhos? Dessa vez o caminho por onde as pessoas andam e os problemas corriqueiros transitam. Dessa vez, na sua rotina, dessa vez por um caminho que você não imagina, por meios que você não escolheria jamais. Qual seria a sua reação?
Que hoje os seus olhos estejam congelados no caminho por onde ele pode chegar, ainda que seja um caminho simples, de erros banais e atitudes terrenas. Talvez, dessa vez, você não precise sair do túmulo. Basta sair de casa para ver o Rei passar na sua rua. Um caminho aparentemente mais simples, mas por isso mesmo, muito mais sutil. E que você tenha garganta o bastante para gritar sem medo que ele é Rei o suficiente para se misturar com o que é humano porque é aí sim que ele está nas alturas. Que quando você está esperando por ele sem formatos ou idéias pré-estabelecidas, aí sim ele está nas alturas. Que ele em cima do jumento é na verdade, ele acima de todas essas burrices. E que você enxergue de longe e reconheça que Deus não é um Power Point clichê, mas é um mover que acontece e anda independente da estrutura. Ele é a visita bem vinda para aqueles que enxergam mais alto. Que essa seja a sua história, e que você sempre more nessa cidade.

Luciana Elaiuy (http://www.umpontoum.com/)

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