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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

GOSTOSO ATÉ DE LER

Leiam com atenção o André Mifano. Não sei se pela próximidade com a Dutra ou se pela invasão de alienígenas ou mesmo pelos regimes impostos pelas ditaduras da beleza e da saúde, aqui pelas bandas da terrinha não presenciamos mais essas coisas. Dá uma tristeza.

ER 

Do Chef André Mifano para a Folha:

Você já tomou um cafezinho em Minas Gerais? Se a resposta for sim, tenho certeza de que um pequeno sorriso já apareceu no canto da sua boca, assim como tem um neste exato momento na minha.
As lembranças de dois dias rápidos, porém intensos, e 600 km rodados em Minas povoam minha cabeça e fazem o meu estomago rosnar como um cão raivoso.
De Betim a Tiradentes, passando pelas fazendas e sítios na roça de Congonhas, Minas me mudou um pouquinho. Não sou um cara fácil, quem me conhece sabe disso. Me comunico melhor com a comida do que com as pessoas. Tenho vergonha de ir à casa dos outros e em situações sociais me sinto acuado.
Mas como não se sentir à vontade na casa de um mineiro? Um sorriso ao te receber e logo a tão temida pergunta. Quer um cafezinho?
O café estará lá mesmo, pode apostar. Mas não estará só. Aí vem a broa, o queijo, as geleias, os biscoitinhos, um bolo e seu anfitrião só vai sentar para uma boa prosa depois que não couber nada na mesa.
Acho que os mineiros estão para o Brasil assim como os italianos para a Europa. Fartura à mesa, qualidade nas matérias primas, simplicidade e perfeição nos preparos, simpatia e calor humano.
Eu vi muita coisa nesses dois dias, da moagem da farinha de milho no moinho d'água de cem anos na fazenda Bombaça, que vende os melhores biscoitos de polvilho que já comi, passando pelo sítio do Zezeca, com sua simpatia e a broa com queijo que palavras nunca serão o bastante para descrever.
E, chegando ao restaurante Ora Pro Nobis, o João, mesmo depois de um dia de muito trabalho em pleno festival, me recebeu com uma leitoa, uma cachaça e um enorme sorriso.
Da simplicidade desse povo nasce a excelência de sua comida, seja na roça, seja numa cozinha profissional. Sua generosidade é tão grande que até as mesas têm gaveta. A água de lá tem alguma química que faz as mulheres ficarem lindas e os animais de criação, enormes.
Como as maravilhas de Minas, este texto nunca teria fim.

André Mifano - É chef do restaurante Vito, na rua Pascoal Vita, 329, Vila Beatriz, São Paulo
Escreveu para a Folha


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