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terça-feira, 24 de maio de 2011

ACREDITEM QUERENDO

Do André Barcisnki - Folha

Local: uma padaria “de luxo”, das mais caras da cidade de Sâo Paulo. Um misto quente custa o preço de um almoço no Centro.
Estou na fila para pagar. Na minha frente, há uma velhinha miúda, de uns 80 anos, acompanhado de um casal de cerca de 50 anos. Os três estão bem vestidos. Parecem estar voltando de uma peça de teatro ou coisa parecida.
A velhinha entrega o cartão de comanda para a menina do caixa: “Está zerada a comanda, pode passar, senhora!”
Um funcionário da loja se aproxima da velhinha. Ele fala em voz baixa: “Minha senhora, é a terceira vez em dez dias que a senhora dá o mesmo golpe...”
A velhinha parece não entender o que se passa.
O funcionário mostra uma comanda para ela. “A senhora pegou duas comandas, usou uma, e jogou a comanda usada na lata de lixo. É a terceira vez que eu vejo a senhora fazendo isso em pouco mais de uma semana.”
A velhinha esboça um protesto: “Eu não sei o que o senhor está falando...”
O funcionário diz, sem perder a calma: “A senhora tem duas opções: ou paga o que tem nessa comanda, ou eu chamo a viatura e a gente vai pra delegacia assistir ao vídeo do circuito interno”.
A velhinha, sem dizer nada, pega a comanda e paga a conta: mais de 60 reais. O casal acompanha tudo, calado. Os três saem da padaria.
No estacionamento, vejo a mulher discutindo com a velhinha. “Eu te disse, mãe! Você é muito burra! Não te disse que aquele sujeito já tinha sacado?”
O trio entra num carro. Preço de tabela do carro: mais de 100 mil reais.
Voltei à padaria e procurei o funcionário. Contei que a família toda estava na jogada.
“Ah, eu sei, esses três aí dão esse golpe há um tempão”, respondeu. “Cada dia é um que esconde a comanda!”
Mas então por que vocês deixam esses safados entrarem na padaria?
“Por que senão eles processam a gente por constrangimento público. Hoje eu dei sorte que a velha jogou a comanda numa lata de lixo bem na frente da câmera. Geralmente eles jogam a comanda no lixo do banheiro, onde a gente não pode pôr câmera”.
Definitivamente, o Brasil não é para amadores.

André Barcinski - Folha

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc sabia que o Mappim, antigamente, reservava 5% de seu orçamento para cobrir os roubos....filmado, gravados etc.

O povo (Clientes) roubava 5%%.

Verdade