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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

É DISCO QUE EU GOSTO


PAULO VANZOLINI

Doutor Paulo Vanzolini. Doutor em zoologia pela Universidade de Harvard. Não tem muitas música, mas as que fez, principalmente três delas, são maravilhosas. Uma delas, "Ronda", é considerada um dos clássicos da MPB. Compôs essa música em 1951, que foi gravada primeiramente pelo cantor Bola Sete, em 1953.
Ficou conhecido do público em 1963, quando o seu samba "Volta por Cima", composto em 1959, estourou nas paradas de sucesso brasileiras.
Dessa eu me lembro bem, gravada pelo Noite Ilustrada. (um homem de moral, não fica no chão e nem quer que mulher lhe venha dar a mão, reconhece a queda e não desanima. Levanta sacode a poeira e dá volta por cima)
Vanzolini nasceu em São Paulo em 1924. Inevitável não comparar "Ronda" com a também excepcional "Sampa" do Caetano. Ouçam com o Jamelão.
ER

BOA NOTÍCIA



O presidente americano Barak Obama em discurso feito hoje em Atlanta, confirmou que no próximo dia 31 (agosto), terminará a missão de combate do EUA no Iraque.
Toda a tropa americana deverá ser retirada até o final do próximo ano.
Balanço até agora: 4.000 soldados americanos perderam a vida. Mais de 30.000 ficaram feridos e US$ 736 bilhões foram gastos.
Essa ação havia sido prometida por Obama, quando candidato.
Custo caríssimo em vidas. Valeu ?
ER

CONTA GOTAS

1 - Leiam com calma. Não entrem em pânico. Tomei conhecimento que após prolongado recesso, o Plenário da Câmara Federal vai retomar (?) os trabalhos esta semana. Centenas de deputados deverão continuar as sua campanhas para reeleição, recebendo naturalmente os seus vencimentos e vantagens. São os famosos candidatos pagos. Sou contra reeleições.
2 - Atenção munícipes : Ter opinião sobre qualquer tema e expô-la, mesmo de maneira respeitável, passou a ser sinonimo de arrogante. O poder público deverá baixar urgente uma relação das pessoas autorizadas a ter opiniões próprias. No máximo, cada cidadão normal, poderá ter opinião sobre dois assuntos específicos. Somente os grandes sábios, terão direito de expor o seu cabedal de conhecimentos para mais itens.
Sobre todos os itens, tão somente os amigos do rei.
Cochichar entre paredes está liberado.
3 - Bom coração. Não fique com a sua consciência pesada. O Brasil (você/nós) estamos doando para alguns países africanos e outros da América Central, US$ 300 milhões em alimentos. Desde que os daqui estejam sendo atendidos, que mal tem ?
4 - As coisas estão indo bem, mas algumas informações nos incomodam. Por exemplo: 8 milhões dos eleitores brasileiros são analfabetos. Um total de 19 milhões aprendeu a ler e escrever na luta. Nunca foram na escola.
5 - Essa tal felicidade - Pegaram o bom Senador Cristovam Buarque de jeito. Uma ONG, o convenceu de apresentar no Senado, para ser discutida e votada, uma emenda constitucional, dando o direito a todos os brasileiros à felicidade.
ER

MELHOR IDADE ? UMA ÓVA !


Tinha esse título gravado esperando um momento para falar sobre isso. Ontem li uma notícia no OESP (Fabiana Leite) e hoje saiu.
Não gosto desse título politicamente correto "melhor idade", por uma razão simples: Não é !
Considero muito importante os esforços que pessoas da sociedade fazem para manter e estimular o convívio social dos idosos.
Está longe de chegar, mas já passei por mais de uma placa com indicações do caminho da velhice. Sobre as distâncias, me reservo o direito de calar. É natural.
Mas por favor, não quero ir em bailes da saudade e nem em concursos de beleza da terceira ou quarta idade. Me poupem.
Não sei, mas deve dar um baixo astral danado no dia seguinte, a tal "ressaca do tempo".
Como disseram sabiamente Zé Rodrix/Sá e Guarabira: "Eu quero um lugar onde possa ter meus amigos, meus livros, meus discos, minha família e nada mais."
Afirmou um importante especialista na área: "Existe uma única solução para o antienvelhecimento, que é a morte precoce".
Se for para ir em festas: Me convidem para as de jovens.
ER

FABRICA DE DOSSIÊS


Nos últimos anos cansamos de ver nos noticiários montagens de dossiês pelos aloprados do PT. Outros partidos devem ter os seus, porém não com tanta dedicação à função. Talvez devido ao acesso facilitado às informações.
Desta vez os destrambelhados extrapolaram.
Produziram um dossiê interno contra o próprio companheiro, ministro Mantega.
O material acusa a filha do ministro, Marina Mantega, que atua como consultora (e modelo) por tráfico de influência no Banco do Brasil. Segundo notícias, tal dossiê teria sido elaborado pelo grupo do ex-presidente do PT, Ricardo Berzoini.
Foi provocado por uma "batalha" interna para a indicação do presidente da Previ (fundo de pensão dos funcionários do banco). O dois lados levaram chumbo. Foi nomeado um terceiro nome.
Berzoini saiu chamuscado do imbróglio. Reparem que foi até deixado de lado da campanha da Dilma.
Como declarou o senador Álvaro Dias: "O partido está se especializando na elaboração de dossiês. Quando se começa a esquecer o último, aparece outro."
Imaginem o arsenal que esse pessoal tem armazenado.
ER

CARTA ÀS MINHAS FILHAS - MARINA


Estou com 50 anos, uma bela idade para conversar com vocês, três jovens mulheres admiráveis e lindas em quem me apoio e me referencio diariamente em casa e no mundo. Será que tenho um legado para lhes deixar? Não sei. O que tenho é a minha maneira de ser e viver, na qual vocês deixando marcas tão fortes que, às vezes, penso que fui eu que recebi seus legados. Sou herdeira do que me fizeram ser, em diferentes momentos. E por isso quero me dirigir a cada uma de vocês, porque são inconfundíveis na sua individualidade e porque nossa ligação tem histórias tão próprias que não podem ser generalizadas.

Shalom, minha primeira filha.
Você gerou em mim a mãe, tanto quanto eu a gerei filha, justamente num Dia das Mães, 10 de maio de 1981. Eu era uma estudante de História que não tinha salário, nem carteira assinada, nem plano de saúde, nem previdência. Você nasceu num hospital público, onde me registraram na categoria chamada de "indigente".
Na hora exata em que sua cabeça apontava, lá pelas nove da manhã, tive uma queda de pressão tão violenta que soltei as mãos das tiras em que me agarrava à cama e as pernas bambearam. Sem ver mais nada, só ouvia alguém gritando: "Bota força, sua louca, senão você vai matar sua filha". Mas eu não tinha força alguma, sentia apenas tudo rodar. As lágrimas caíam e, no entanto, nem as pálpebras conseguia abrir ou sequer dizer o que estava acontecendo comigo. Aí ouvi o sotaque italiano da irmã Constanza, a única enfermeira formada na equipe, que entrou na sala aos berros: "Esta mulher está morrendo, vamos salvar a criança!". Abriu-me a fórceps como se abre um objeto e retirou você de dentro de mim, uma menininha que deve ter tido uma péssima primeira impressão do mundo.
Ao mesmo tempo me deram uma injeção e a pressão foi subindo. Vi as enfermeiras aflitas fazendo sucção num corpinho do qual eu via uma parte, bem escura. Pensei: "ela puxou à minha família, ao meu avô descendente de escravos". Enquanto eu era socorrida, fiquei com aquela imagem da minha menina negra, que tinha sido levada para a UTI.
Depois, na enfermaria, todos os bebês chegavam para mamar, menos você. Comecei a ficar nervosa e a perguntar sem parar, mas ninguém te trazia, nem me respondia. Lá pelas duas da tarde, finalmente, você chegou. Mas era branca, e eu comecei a dar escândalo, dizendo que tinham trocado minha filha. A enfermeira, de outro turno, não sabia da confusão da manhã, nem que você, devido ao sofrimento, tinha nascido muito arroxeada, o que me fez confundir a cor de sua pele, pensando que era escura. Ela só sabia dizer que o bebê era aquele mesmo. Te peguei você no colo pela primeira vez e comecei a olhar tudo, à procura de algo que comprovasse que era minha. Aí encontrei, nas costas o mesmo sinal vermelho, o mesmo desenho que sua avó dona Raimunda tem entre os seios. E, na coxa, ainda havia resquícios da cor escura que havia visto antes.
Foi muito difícil o que vivemos juntas: o instante de me constituir como mãe, a experiência mais visceral que existe. E, naquele momento, de uma radicalidade tão profunda, ganhei também uma fortaleza que sinto e sempre sentirei como ligada a você.
Depois você se transformou numa criança cheia de personalidade, que adorava dançar. Num carnaval, quando tinha uns dois anos, fiz uma fantasia de bailarina de filó e, enquanto eu e seu pai, Raimundo, aguardávamos o desfile dos blocos, você tentava se aprumar na ponta dos pés. Caía, levantava e tentava de novo, com muita determinação.
Você cresceu praticamente dentro da Universidade Federal do Acre, acompanhando-me em tudo. Aliás, seu nascimento aconteceu durante uma greve. Sua avó Raimunda e minha tia Chiquinha me ajudavam, mas, na maioria das vezes, eu acabava tendo que levar você para a sala de aula e até para as assembleias e outros eventos da minha militância política. Ouvir discursos fez parte do seu aprendizado da fala. Tanto que uma vez, em casa, quando tinha uns cinco anos, chegou com uma caixa de fósforos amarrada num barbante, subiu no braço do sofá e começou: "companheiros, mãe, temos de respeitar nossa dieta líquida". Os gestos, a entonação, eram iguaizinhos aos que eu fazia! Fábio e eu caímos na gargalhada, mas até hoje não sabemos de onde você tirou a bandeira da dieta líquida!
Lembro-me de outra história de sua infância, na qual já se manifestava o polo forte que seria na família. Era a formatura do Danilo no maternal, lá no SESC de Rio Branco. Ele estava lindo, muito arrumado na sua roupinha branca. Chamamos um fotógrafo. Ele se abaixou, começou a mexer nas máquinas e disse algo que não ouvimos, mas você ouviu e, seja o que tenha sido, interpretou como uma caçoada com seu irmão. Só vimos quando partiu pra cima do fotógrafo – sem levar em consideração o que seria um confronto com um homem daquele tamanho – e, muito vermelha, de dedinho em riste ameaçou: "Você não manga do meu irmão ou leva um tapa".
Também recebi sua solidariedade quando você era bem pequena e eu atravessava um período muito difícil. Ao me pegar chorando, sentou-se no meu colo e, acariciando o meu rosto, disse: "Chó não, mamãe, chó não".
Passou o tempo e aprendi outra lição com você. Eu queria costurar e você em cima, não deixava, tentando por toda maneira chamar minha atenção. Aí apelei para a chantagem emocional: "Shalom, vai pro berço brincar senão mamãe chó". Você parou, olhou para mim sem condescendência e foi definitiva: "Pode chó!".
Shalom, seu nome significa Paz em hebraico.
E você é uma boa representante da paz: quer entender as pessoas, suas razões, seus sofrimentos, e ajudá-las a encontrar a força interna, o equilíbrio, a tranquilidade. Não sem razão foi pelos caminhos da Psicologia, buscando a paz que começa a se formar dentro de cada indivíduo e se consolida no aprendizado de que acolher o outro não significa se tornar refém do desejo e das circunstâncias de ninguém.

Moara, primeira filha do meu segundo casamento, com Fábio, você foi um nascimento planejado, mas num momento muito intenso, no ano de 1989.
Estava no auge a campanha presidencial do Lula contra o Collor e eu era vereadora em Rio Branco, a única representante do PT na Câmara, numa conjuntura de grande tensão.
Eu estava no "olho do furacão" porque, mesmo sem ter sido de caso pensado, no primeiro mês do mandato mostrei a um jornalista o meu contracheque quando ele me perguntou quanto ganhava um vereador. No dia seguinte, o jornal estampou na primeira página os vários itens que compunham a nossa remuneração e isso virou um escândalo. A maioria dos vereadores ficou inconformada por eu ter aberto a caixa preta. E o troco veio quando você nasceu. Um vereador ameaçou pedir minha cassação, outros apoiaram, por me ausentar durante quinze dias corridos sem que o regimento previsse licença-maternidade.
Com quinze dias de resguardo, tive de ir à Câmara me defender. O clima era muito ruim. Alguns vereadores discursavam contra mim, outros mantinham silêncio e apenas dois, Regina Lino e Orlando Sales, foram solidários. Foi um grande sofrimento, principalmente porque me parecia uma situação absurda. Estava muito sensível e, de repente, meu leite começou a jorrar e empapar minha roupa. Chorei, chorei muito, não conseguia parar. Os funcionários não se mexiam sequer para me dar um copo d'água, com medo de ficarem malvistos. Então o Sabino, que era o taquígrafo da sessão, deixou o seu lugar, pegou-me pelo braço e levou-me para uma sala, onde ficou conversando para me acalmar até Fábio chegar para me buscar.
Esse fato mostra até que ponto a política pode ser insana.
Aquela atitude dos vereadores, insistindo na minha cassação, além de ser retaliação pessoal, era a oportunidade de afastar da Câmara a então única representante do PT. No dia seguinte, a imprensa divulgou o acontecido e foi um levante em Rio Branco. Regina e Orlando apresentaram uma emenda ao regimento interno, dando previsão legal para a licença-maternidade, o que foi aprovado imediatamente.
Moara, o seu nome significa liberdade em tupi-guarani. Você já sabe por que o escolhi, mas vou contar essa história novamente. Eu estava no oitavo mês de gravidez e andava pra todo canto do Acre naqueles aviõezinhos monomotores, fazendo a campanha do Lula. Os pilotos tinham medo que entrasse em trabalho de parto durante um vôo, mas eu ia mesmo assim. Éramos sempre quatro. Um ficava na frente, ao lado do piloto, e três iam espremidos no banco de trás. Em geral eu ia no meio, com o Jorge Viana de um lado e o Tião do outro. Pois era só subir o avião e você começava a se mexer bastante e a chutar. A tal ponto, que acertava as costelas do Jorge e do Tião.
Numa dessas vezes, decidi que seu nome seria Moara, porque gostava mesmo de voar, de ter asas, de liberdade. E, de fato, minha intuição correspondeu à sua personalidade: expansiva, altamente comprometida com valores, com o olhar sempre voltado para as injustiças do mundo, procurando engajar-se em algo que as amenize.
Quando nos instalamos em Brasília, você e a Mayara eram pequenas e, temendo que danificassem algo no apartamento funcional, a todo momento eu chamava a atenção de vocês com frases do tipo: "cuidado para não riscar a mesa do erário", "apaguem a luz para não aumentar a conta do erário", "cuidado para não quebrar esse vaso porque é do erário". Um dia, com a carinha muito aborrecida, você me disse: "Mãe, quero voltar pra nossa casa no Acre. Eu não gosto daqui. O Erário é muito chato e a gente não pode fazer nada na casa dele."
Aos treze anos, você foi me representar na entrega de um prêmio em São Paulo e, no discurso de agradecimento, num improviso muito bonito e muito aplaudido, contou essa história do erário. Concluiu dizendo que tinha aprendido que erário era aquilo que pertencia a todos e que a natureza era uma espécie de erário que deveria ser muito bem cuidada por todos.
Seus sentimentos estão sempre à flor da pele quando se trata das grandes causas. Vi isso na forma interessada e dedicada como agora, estudante de Direito, acompanhou os debates e o próprio julgamento no Supremo Tribunal Federal sobre a Terra Indígena Raposa Serra do Sol. E saiu de lá com um brilho nos olhos, falando em se especializar em Direito Ambiental e Indígena. Um caminho difícil, mas, estou certa, de bom tamanho para os seus ideais e o seu coração".

"Mayara, minha filha mais nova, você foi uma sobrevivente do improvável.
Em 1991, eu estava com problemas de saúde que evoluíram rapidamente para um quadro de suspeita de comprometimento neurológico grave, devido às tonturas quase permanentes e o turvamento da visão. Fui para São Paulo e lá, no Hospital Albert Einstein, os médicos desconfiaram que o problema poderia estar sendo causado pelo mau funcionamento da tireoide.
O hospital tinha como norma fazer teste de gravidez antes do exame comprobatório. Fiquei irritada porque eu "sabia" que não estava grávida e achava que isso só atrasaria ainda mais o diagnóstico, sem falar no item a mais na conta. Quis comprar briga, mas os médicos foram irredutíveis. O protocolo era esse e deveria ser cumprido.
Quando saiu o resultado, fui de nariz bem empinado para soltar o clássico: "Está vendo? Acabei fazendo um exame inútil!". Nem deu tempo. A entrega foi acompanhada de um sorriso e de um cumprimento ao Fábio: "Parabéns, papai!". Fiquei literalmente de boca aberta, sem conseguir pronunciar uma palavra.
Naturalmente o exame de tireoide não pôde ser feito. Descobriu-se uma contaminação por mercúrio, mas o tratamento não poderia ser feito durante a gravidez. Algumas pessoas chegaram até a questionar se era razoável colocar minha vida em risco, já que teria de ficar nove meses sem tratamento. Para mim, interromper a gravidez estava totalmente fora de cogitação. Fiquei na mais absoluta defensiva. Recusava-me a tomar qualquer remédio porque, imaginava, tudo poderia fazer mal ao bebê.
Foi uma gravidez difícil. Cheguei a pesar 47 quilos aos oito meses de gravidez. Voltei para o Acre. Nas últimas semanas fiquei internada. Minha saúde estava de fato muito abalada. Não conseguia dormir porque temia que o bebê não sobrevivesse, caso algo me acontecesse durante o sono. Depois de três dias insone, pedi ao Fábio que me deixasse dormir no seu colo, fazendo-o prometer que, caso notasse alguma coisa estranha, pediria para retirar a criança imediatamente.
O Dr. Julinho entrou no quarto e viu essa cena. Quando Fábio explicou por que eu estava dormindo naquelas condições, o Julinho decidiu que não dava mais para esperar e tirou você da minha barriga na manhã seguinte. Não tinha sobrancelha, não tinha unhas, mas nada disso teve a menor importância. E hoje você é essa mulher linda!
Os primeiros anos de seu desenvolvimento também foram muito difíceis para mim. Eu só conseguia ver um lado do rosto das pessoas. O outro saía de foco, como se estivesse dissolvido numa sombra. Uma coisa muito aflitiva, mas foi assim que vi os objetos e as pessoas durante muito tempo.
Quando você nasceu, um dos meus maiores pesares foi não ver direito o seu rosto, o que só aconteceu após me recuperar, em 1997. As feições de seus irmãos, eu as via na imaginação porque, quando eles nasceram, eu estava bem. Mas o seu rosto eu nunca tinha conseguido visualizar inteiramente. Você estava com doze dias de vida, quando voltei a São Paulo para retomar o tratamento que continuei em 1996, nos Estados Unidos.
Com essas viagens e outras que passei a fazer como senadora, na primeira fase de sua vida você ficou aos cuidados de sua avó, dona Neide, e do Fábio. Você foi uma criança supersaudável, compreensivelmente muito agarrada ao pai e à avó. Mesmo assim, além de ser muito parecida comigo fisicamente, pegou alguns dos meus cacoetes desenvolvidos durante a doença, como o de passar a mão sobre os olhos, tentando tirar uma sombra inexistente.
Acredito que, mesmo com todas as dificuldades, nunca ficamos de fato distantes. Lembro-me de uma sexta-feira em que eu ia viajar para o Acre e, como acontecia quanto tinha de me ausentar, você não queria sair de perto. Para prolongar um pouco o nosso tempo juntas antes de embarcar, eu a levei ao Senado, de onde iria direto para o aeroporto.
Ao chegar ao gabinete não houve papel e lápis que a distraíssem. Sem desgrudar de mim, tive de levá-la comigo para o plenário, onde havia apenas dois senadores, sendo um deles o senador Eduardo Suplicy. E foi então que você, aos três anos, teve seu primeiro embate com as instituições. Praticamente um ato de desobediência civil…
Você se sentou ao meu lado, na cadeira desocupada, bem quietinha, com ar até solene, naquele espaço enorme e quase vazio. Então, o senador que presidia a sessão anunciou que, "de acordo com o regimento interno", artigo tal e tal, não seria permitido a pessoas estranhas ocuparem os lugares dos senadores. Bem que eu tentei retirar a "pessoa estranha", mas quem disse que você queria sair de lá? Segurou-se na cadeira e seguiu-se uma cena hilária: o senador, insistindo na leitura dos artigos do regimento, os seguranças aproximando-se e a pequena "pessoa estranha" caindo no choro. Voltamos ao meu gabinete e, no dia seguinte, a primeira página do jornal O Globo trazia estampada a nossa foto, com uma crítica ao senador que não tivera a sensibilidade de entender que você não era de forma alguma a "pessoa estranha" a que se referia o regimento.
Outra vez, ainda nos corredores do Senado, Raquel Ulhoa, jornalista da Folha de São Paulo, comentava a nossa semelhança física: "Nossa, senadora, ela é a senhora, igualzinha". Ao que fomos interrompidas por você que, muito séria, corrigiu a Raquel: "Mas eu não sou senadora, eu sou a Mayara".
Mais tarde, você reafirmou essa independência quando mudou de escola, na oitava série, decidida a encarar um dos colégios mais puxados de Brasília. No início não entendi bem, mas respeitei quando me impôs uma condição: não queria que eu aparecesse no colégio. Se me ligassem de lá, eu deveria me identificar como Maria Osmarina. E, nas reuniões de pais, só o pai, Fábio, ou a irmã mais velha, Shalom, poderia comparecer. E assim você passou um ano incógnita, sem ser tratada como "filha de autoridade", uma verdadeira instituição em Brasília. Teve enormes dificuldades em matérias como Matemática e Física, mas as superou e chegou o dia da formatura.
Estávamos todos à mesa, na casa de festas, quando alguém comentou: "Poxa, Mayara, por que você nunca comentou que é filha da ministra?". Sorrindo, você desconversou e quando a pessoa se afastou, explicou-me: "Entendeu, mãe, por que eu não queria que você aparecesse? Eu queria ser aceita por mim mesma".
Entendi, filha, e não me ofendi pelo meu exílio de mãe. Ao contrário, sinto um grande orgulho de você, de suas irmãs e de seu irmão, que nunca usaram expedientes de se escorar em privilégios e não se deixaram contaminar pela cultura do poder.

Uma palavra para vocês três (e que, espero, o Danilo também leia).
Sonho é algo de que a gente não pode abrir mão, nunca. Renunciar aos nossos sonhos essenciais, supostamente em favor do outro, é sempre uma conta que acabamos cobrando de alguma forma. Sinto-me uma mãe feliz, agradecida, porque fui capaz de preservar os meus sonhos fundamentais e hoje posso deixá-los como legado ou testemunho de que só aprendemos a voar, voando.
Nunca enxerguei vocês como impedimento para a realização dos meus sonhos, assim como também nunca me vi como empecilho para que constituam os próprios sonhos. Devemos preservar o que é essencial na utopia, no nosso desejo, porque é isso que deixamos para os filhos: um espaço de desejo para que se realizem.
Quem subtrai o seu desejo, cria filhos anêmicos de alma. Espero que minhas filhas e meu filho tenham uma boa dose de glóbulos vermelhos de sonho. A renúncia e o sacrifício nunca podem desconstituir aquilo que é o fundamento da existência de uma pessoa, porque é daí que vêm a densidade e a força para sustentar o outro e ser sustentado por ele.
Quero lhes dizer também que não se deve ser refém do passado. Concordo plenamente com a Alicia Fernandez, psicopedagoga argentina, que diz que somos o resultado do que fazemos com o passado e não daquilo que o passado faz conosco. Se o passado determinasse a vida, o meu – de muita doença, sofrimento, exclusão e impossibilidades – teria gerado mais doença, exclusão e barreiras. Ter ressignificado esse passado me fez conseguir novas oportunidades e novos horizontes. É o que desejo para meus filhos e para todos os filhos da humanidade.
Se há uma herança que posso lhes deixar, ela é um tecido que vocês mesmas me ajudaram a tecer, feito de fé, sonho e determinação. Tive de me erguer, muitas vezes, apoiada unicamente na fé, a força que – ao contrário do que comumente se pensa – não restringe, mas amplia a capacidade de conhecer e pensar. Nunca vi minha fé cristã como empecilho ao meu crescimento, como justificativa para preconceitos ou exclusões, ou como pretexto para posturas conservadoras. Foi com fé que aprendi as lições do apóstolo: "Examinai tudo. Retende o bem." Aprendi que não devemos nos conformar com esse mundo, mas nos transformar pela renovação de nosso entendimento e, ainda, que "diante de Deus não existe judeu nem grego, nem servo nem senhor, nem macho nem fêmea, porque todos somos igualmente filhos de Deus."
A fé faz a ponte entre o mistério e a realidade. É ela que move as montanhas do impossível. Não consigo viver sem fé, sem sonho, sem determinação, sem esperança. Para mim são essas as forças que tornam a vida prenhe de realizações.
Não tenho a pretensão de querer lhes impor minha experiência. Mais acertado, talvez, seja dizer que são lições que aprendemos juntas. Vocês me trouxeram, cada uma a seu tempo, mais fé, mais sonhos e mais determinação.

Por todas essas lições quero lhes agradecer em um poema que fiz e que é quase uma oração:

Sei não ser a firme voz
que clama em meio ao deserto,
mas me disponho estar perto
para expandir o seu eco.
Sei não possuir coragem
de morrer por meus amigos,
mas me disponho a guardá-los
no mais recôndito abrigo.
Sei nem sempre ter a força
de amar meus inimigos,
mas me disponho a não me vingar,
não lhes impingir castigo.
Sei nem sempre ser aceito
o fruto de minha ação,
mas me disponho a expô-lo
ao crivo d'outra razão.
Voz, coragem, força e aceitação
têm fonte no mesmo Espírito,
origem no mesmo Verbo,
lugar onde me inspiro
e a semelhança preservo,
na comunhão com meu próximo,
no Logus que em mim carrego.

De sua mãe, Marina

(Enviado por email pelo General)

ER












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MAIS FORTE DO QUE A LEI

Recebi ontem das mãos do Presidente da Transparência Itajubá (em frente ao Bradesco) um panfleto, patrocinado e de responsabilidade da própria TI, sobre o "Projeto Voto Consciente".
Interessante chamar a atenção da população para a importância do seu voto. Estaria correto, se não fosse o tópico em destaque:
"PROCURE VERIFICAR SE O SEU CANDIDATO NÃO ESTÁ RESPONDENDO, COMO RÉU, A PROCESSO NA JUSTIÇA POR AÇÕES PENAIS PÚBLICAS"
O bom instrumento (ainda não suficiente), que é a Lei Complementar 135/210, que foi aprovada, também graças a mobilização nacional das "Transparências" não determina assim, porém:
"...TENHAM CONTRA A SUA PESSOA REPRESENTAÇÃO JULGADA PROCEDENTE PELA JUSTIÇA ELEITORAL EM DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO OU PROFERIDA POR ORGÃO COLEGIADO."
A Declaração Universal dos Direitos Humanos assinada na ONU em 1948 e cujo brilhante e emocionante texto consta do site da Transparência Itajubá afirma do Item X-1:
"Todo o ser humano acusado de uma ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a Lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa."
Portando, o panfleto distribuído poderá induzir os eleitores a cometerem injustiças. Pelo que estou sabendo (não oficialmente), todos os candidatos da cidade e da região tiveram suas candidaturas aprovadas. Portando, popularmente, estão com "Fichas Limpas".
Induzir pessoas ao erro é errar mil vezes.
ER

CONVERSA AO PÉ DO OUVIDO


Pelo gentil convite do Rodrigo Marques, deveremos estar conversando hoje no programa Itajubá Notícias, ás 11:30 horas. Mesmo de longe você poderá ouvir e questionar.
No rádio também "viver é perigoso".
ER

FRASE DO DIA


"A vaidade é o caminho mais curto para o paraíso da satisfação, porem ela é, ao mesmo tempo, o solo onde a burrice melhor se desenvolve."
(Augusto Cury)

PRESENTE DE DEUS


Em 1957, nossa mãe tomou o barco. Era uma bonita moça de 36 anos. Ficamos sete pequenos acompanhando o pai. Os cinco menores, certamente, não sabiam a dimensão do acontecido. Os dois mais velhos, com certeza, viveram a abrupta separação: eu, o mais velho com onze anos, e a segunda com dez.
Hoje esta segunda irmã completa mais um ano de vida, ao lado do marido, de suas duas filhas, de seus genros e de cinco netos. Ah, e me esqueci: e de seus dez irmãos e da Dna. Helena, que Deus mandou para cuidar de nós e do nosso pai (e juntar mais quatro no grupo).
Professora de não sei quantos alunos, diretora de Grupos Escolares, Superintendente Regional de Ensino, Secretária Municipal da Educação e amiga sempre presente.
Como gosto da Edna !
Na tarde fria do final de julho de 1957, a minha imaginação diz que ela teria me falado:
- "Nós temos o principal. Iremos longe todos juntos."
Continuamos indo.
O que seríamos de nós sem irmãos ? Tanto amor que não poderíamos repartir.
obs: a inversão das idades é um presente

ER

OS DEBATES COMEÇAM DIA 5 (QUINTA)