Na casa do meu pai, nunca foram cultivadas superstições. Muito pelo contrário. O velho Sr. Zé Riera não aceitava nem brincadeiras nesse sentido.
Exceto durante os jogos de Copa do Mundo.
Lembro-me da Copa de 70 no México, quando ainda morávamos juntos.
No primeiro jogo do Brasil (Brasil 4 X 1 Tchecoslováquia) ele observou bem onde todos os filhos sentaram na sala para assistir o jogo. Em cada gol era uma festa. Nada de comer biscoitinhos ou algo que provocasse ruído durante as partidas.
Comentários só com a sua autorização. Mas era maravilhoso.
No jogo seguinte contra a Inglaterra, as coisas estavam complicadas. Jogo duríssimo.
Meu pai deu uma olhada geral e descobriu a razão: tinha expectador sentado em lugar diferente do ocupado no primeiro jogo, quando tudo deu certo.
Ele próprio ordenou as alterações. O Brasil fez um gol e venceu os ingleses.
Já na fase eliminatória aconteceu o jogo com os temíveis uruguaios. Foi à noite e estávamos recebendo a visita do grande amigo Reverendo Mário Lício.
Todos sentados nos devidos lugares e o Reverendo postado em uma cadeira almofadada, colocada em frente a TV especialmente para ele.
Começa a partida e em poucos minutos, gol do Uruguai. Todos olharam para o pai que simultâneamente olhou para o Reverendo. E agora ?
As coisas estavam complicando.
Sem mais nem menos, com 1xo para o Uruguai, o meu pai como líder e chefe da torcida, se levantou, foi até o Reverendo e estendendo a mão, disse: - então Pastor, fica combinado. Amanhã o Sr. vem almoçar conosco.
O bom Reverendo foi se levantando meio sem querer e seguiu acompanhado do Sr. Zé até à porta, onde se despediram.
O meu pai ainda não havia se sentado novamente, quando o Brasil empatou. Foi uma festa, com todos empinhocando no chão.
Final, Brasil 3x1 Uruguai.
Assim foi até a final da Copa, com a sua conquista.
Não foi superstição. Foi mania.
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